quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Uma professora de música que escrevia contos

Mulher nascida no final do século XIX, dois anos depois de fundada a cidade de Belo Horizonte, Dona Maria, apesar de educada em um colégio de freiras francesas, era uma mulher fora dos padrões da época. Não se dedicava aos trabalhos domésticos, mas sabia como ninguém história da arte, música e canto orfeônico. Não teve dúvidas: tornou-se professora "para não enlouquecer"como dizia sempre.

Era o terror das alunas da aula de Música e Canto da antiga Escola Normal Modelo, atual Instituto de Educação de Minas Gerais. A professora não pensava duas vezes para reprovar quem desafinava ou não marcava o tempo corretamente nos solfejos. Era temida, mas muito querida, tanto que a sala de música hoje leva seu nome: Maria Amorim Ferrara.

Sua enorme vitalidade e seu espiríto inquieto se expressaram intensamente em seu trabalho de professora. Estudou com Villa-Lobos. Regeu coros, escreveu artigos para jornais sobre música sacra, formou professores, escreveu livros didáticos - Notas de Uma Professora de Música Escola em 1938 e O Ensino do Canto Orfeônico em 1958. Com seu modo peculiar de ser professora, compôs a letra do hino do Instituto de Educação de Minas Gerais, musicou os textos dos livros A Galinha Ruiva e O Livro de Lili usados na alfabetização de crianças das escolas públicas. Elaborou a coletânea Caderno de Canções, contendo hinos e canções para alunos do curso primário da época e o livro Como Brincam as Crianças Mineiras, como o resultado da pesquisa sobre brincadeiras folclóricas. Participou da encenação de peças teatrais musicadas com colegas professoras de artes cênicas. Foi multimídia e transdisciplinar em meados do século passado! Nas "horas vagas", escrevia - publicou o romance Maria dos Anjos em 1946 -, tocava piano, pintava e desenhava, para seu prazer e o nosso.

Dona Maria era minha avó, o futuro no meu passado. Em lugar de computadores e lousas digitais ela usava o piano e as partituras para ensinar. Foi, também, a responsável por minha educação. Com ela aprendi a tocar piano, a falar francês, a escrever. Contou-me da vida dos músicos e dos grandes mestres da pintura. Apresentou-me há quarenta anos Carmina Burana, do alemão Carl Orff, que ela sabia, um dia, faria sucesso. Colocava a minha disposição telas e tintas e me dizia: Pinte! - e minha imaginação se congelava no branco da tela, diferentemente do que acontecia quando me dava o caderninho e me mandava escrever. Adorava quando declarava: Hoje o tema é livre, menina - e me entregava o lápis, borracha, não, para pensar bem antes de escrever. Não me aborrecia quando me devolvia meus escritos com notas e marcas nas vírgulas fora de lugar e o quiser escrito com z. Ela podia. Tinha jeito e resposta para tudo. Sua língua afiada era o máximo!

Em sua homenagem e como forma de reconhecer e agradecer essa vida tão rica, minha irmã, Ana Maria Ferrara, tomou a iniciativa e só descansou, orgulhosa, quando foi colocado em suas mãos o exemplar dos Contos Antigos, escritos por nossa avó nos anos de 1947 a 1949 e publicado pela Editora Mulheres (http://www.editoramulheres.com.br/), que os considera contos eternos, tal qual ensinou o poeta Drummond, conterrâneo da professora Maria: melhor do que sermos modernos é sermos eternos.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Aprendizes digitais

Interessante vídeo sobre os "aprendizes digitais" . Um questionamento das aprendizagens que não ocorrem na escola. Como não está legendado, fiz uma tradução livre logo abaixo.



Estudantes usam atrativas tecnologias que criam ambientes de aprendizagem investigativa e colaborativa com professores dispostos e capazes de usar o poder das tecnologias para orientar seus alunos a transformar conhecimento e capacidades em produtos, soluções e novas informações.

Sou um estudante do século XXI.
Eu jogo 3 horas e meia por semana.
Vou ver televisão 16 horas e meia essa semana.
Vou ficar no computador 5 horas e meia.
E eu 2 horas lendo um livro no computador.
Eu escutei 5 horas de Harry Potter no meu ipod essa semana.

Nós esperamos ser capazes de criar,
de consumir,
de fazer mixagens,
de compartilhar informações entre nós.
Nossos pais usam e-mail.
Eu mando torpedos.
Eu sou blogueiro.

76% dos meus professores nunca usaram wikis, blogs ou podcasts.
Pelo memos uma vez por semana, 14% dos meus professores me deixam criar algo usando tecnologia.
63% deles nunca deixam.
61% dos meus professores de leitura nunca usam software de histórias contadas.

Eu aprendo fazendo.
O que nós estamos aprendendo sentados aqui?
Como você aprende?
Que tipo de educação você gostaria que eu tivesse se eu fosse seu filho ou sua filha?

Até o ano de 2016, o país que mais falará Inglês será a China. Há mais estudantes na China do que a população da América do Norte, mas somente metade de nós vai se formar no Ensino Médio.
Será que eu vou? Será que eu vou?

Eu terei tido 14 trabalhos antes de 38 anos.
A maioria desses trabalhos ainda não existe hoje.
O que isso vai me ajudar? (segurando uma página de caderno com várias palavras repetidas escritas por ela)
Como isso poderia me ajudar? (Segurando uma máquina fotográfica digital)
Ou isso? (com um ipod no ouvido)
Ou isso? (na frente de um computador)

Ensina-me a pensar,
a criar,
a avaliar,
a aplicar.
Ensina-me a pensar

Deixe-me usar a www.
Em qualquer coisa;
Em qualquer ocasião;
Em qualquer lugar.
Deixe-me contar uma história digitalmente.

Comprometa-me
Motive-me
Estimule-me
Provoque-me
Desafie-me

Somos estudantes, aprendizes da era digital.